SÃO JOSÉ DO RIO PARDO E REGIÃO – ANO 36



Coronel, sem chicote nem chapéu

13/09/2021

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Os velhos coronéis, dos velhos tempos, mandavam prender e mandavam soltar.

Mandavam na cidade. O padre tinha de obedecer. O delegado tinha de obedecer. O prefeito, quando não era o próprio coronel, tinha de obedecer. O juiz tinha de obedecer.

Não faltam piadas e estórias no anedotário popular sobre esse período da História do Brasil.

Os políticos da velha guarda como Orestes Quércia, Paulo Maluf, José Sarney, Antonio Carlos Magalhães, todos atuaram como coronéis. Nesse espectro.

Sarney logrou êxito e fez sucessores. O chamado clã Sarney na política maranhense segue, ainda, firme.

Em nossa região os estertores do coronelismo político causam, a cada espasmo, mais indignação.

A atribuição do nome de uma rua em São José do Rio Pardo à vereadora carioca Mariele Franco gerou, por diversas razões – algumas menos justificáveis que outras – notável indignação em boa parcela da sociedade local.

Um fenômeno com o qual concordando-se ou não, existe. E não é de difícil compreensão, como pode parecer à primeira análise.

Primeiro que se tem perdido o significado de certas palavras do vernáculo. DIREITA é uma expressão, na política, que define políticas liberais que defendem um estado menor, sem assistência social, sem saúde pública, sem educação pública.

CONSERVADORES são os que resistem às mudanças. Um conservador norte-americano certamente, mesmo gozando da mesma nomenclatura, defende valores muito diferentes de um conservador russo.

A parcela que não se sentiu bem nas próprias calças com a atribuição do nome da vereadora carioca a um logradouro público em São José do Rio Pardo é, em sua maioria, conservadora. Parte dela diz-se de direita, e o faz enquanto usa serviços públicos de saúde, de educação, etc. Vê-se a inconsistência ideológica.

Escapando desta questão de natureza semântica, em nossa cidade temos uma boa parcela conservadora. E os vereadores que esses conservadores escolheram são, exatamente, os que falam – observem: falam – contra a esquerda, contra partidos de esquerda, etc.

O problema é que esses vereadores também são conservadores. E a semântica, no caso, não favoreceu o diálogo.

Como bom conservador, filho de um político da velha guarda, Henrique Torres fez o que aprendeu em casa. Decidiu como achou melhor sem perguntar ou dar satisfação de nada, a ninguém.
Só que, diferente de sua ascendência, falta ao sinhozinho o chicote e o chapéu, sinais de poder dos velhos coronéis.

Esperando que todos abaixem a cabeça para suas decisões, viu – surpreso – um sem número de cidadãos modernos, conservadores mas não ovelhas de presépio, indignados com sua conduta.

Henrique Torres lidera sua bancada. Toco Quessada e Paulão da Rádio vão seguir-lhe as ordens. Todos conservadores.

Nenhum deles sequer cogitou consultar sua base, seus eleitores ou a população antes de decidir.

Só que os tempos dos coronéis já se foram. Redes sociais, aplicativos de mensagens... ...a população, nem os neo-nobres nem a neo-patuléia, aceitam calados ordens dos coronéis. Ou de seus descendentes. Ou dos que os servem.

Concordando, ou não, com a vereadora do Partido dos Trabalhadores que fez a indicação, não há como discordar que ela agiu de acordo com sua inclinação política e, principalmente, ouviu sua base. Fez aquilo para o qual foi eleita.

Quem deixou a desejar foram os vereadores conservadores. Paulão da Rádio, admita-se, é responsável por qualquer sucesso econômico da rádio da família a que serve. Sem ele, mais de uma eleição teria sido perdida pelo grupo. Sem ele, sequer o filho do patrão seria vereador – Henrique Torres entrou com votos da legenda, de todos os candidatos do PSDB a vereador que, ao se candidatar, colaboraram para que ele entrasse.

Paulão já deixou claro que não manda nem no programa que apresenta na rádio, recebendo ordens sobre quem entrevistar e quais perguntas pode, ou não, fazer. E, na Câmara Municipal, agiu exatamente assim, como sempre fez: conservador.
Alguém mandou. Ele obedeceu.

Com Toco Quessada fica claro que a dinâmica não é muito diferente.

Henrique comanda a oposição, e tenta agir como coronel. Sem chicote. Sem chapéu.

Fez o que aprendeu a fazer: decide como quer, sem consultar ninguém.

A lição fica para os eleitores conservadores: quando forem votar em candidatos igualmente conservadores, peçam melhores explicações sobre como interpretam o vocábulo. Henrique Torres liderou sua bancada inteira votando a favor do nome de Mariele Franco para uma via pública em São José do Rio Pardo.

Se alguém não concordou, não deve cobrar de Thaís, que fez o que foi eleita para fazer.

Deve cobrar de Torres e seus vereadores, conservadores. 



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