Política do endividamento
27/04/2025
A Prefeitura de São José do Rio Pardo, por meio da Secretaria Municipal de Gestão, tomou uma decisão necessária e responsável ao propor à Câmara Municipal um projeto de lei destinado a limitar a quantidade de descontos permitidos na folha de pagamento dos servidores públicos municipais. A medida surge como resposta a um problema crescente: o endividamento excessivo de servidores, em parte impulsionado pela utilização indiscriminada das chamadas carteirinhas sindicais para compras no comércio local e pela contratação de empréstimos consignados.
O sistema atual, que deveria ser um instrumento de apoio financeiro moderado, acabou, na prática, se transformando em uma armadilha silenciosa para muitos trabalhadores. Sem um controle rigoroso por parte do Sindicato dos Servidores, inúmeros funcionários viram-se com grande parte — ou até a totalidade — de seus salários comprometidos antes mesmo de receberem seus vencimentos. A permissividade, é importante destacar, não se deu por omissão pura, mas por um cálculo político: seria impopular para a liderança sindical limitar o acesso ao crédito e à facilidade de compras, ainda que em prejuízo futuro dos próprios servidores.
A reação do Sindicato ao projeto de lei revela a encruzilhada entre o interesse coletivo e os interesses político-corporativos. Embora a entidade reconheça o problema, optou por não apoiar oficialmente a iniciativa da Prefeitura, receosa de se desgastar junto à base. Trata-se de uma postura compreensível sob a ótica da política sindical, mas lamentável quando se observa o quadro mais amplo da responsabilidade institucional: proteger o trabalhador, muitas vezes contra impulsos de consumo que ele próprio não consegue controlar sem regras claras.
Limitar os descontos em folha é uma atitude de maturidade administrativa, que visa resguardar o mínimo existencial do servidor público e assegurar que a remuneração continue cumprindo sua função social — a de garantir o sustento digno de quem trabalha para a cidade. É uma ação que demanda coragem política, pois enfrenta resistências corporativas e interesses enraizados.
É hora de superar os velhos vícios do patrimonialismo sindical e construir uma nova cultura de responsabilidade fiscal e proteção social genuína. Defender o servidor público não é apenas garantir aumentos salariais ou ampliação de benefícios: é também impedir que, por falta de regulação, o próprio salário perca seu significado prático. A sociedade rio-pardense, que financia essa estrutura pública com seus impostos, espera e merece este tipo de governança responsável.
Que a Câmara Municipal, agora incumbida da análise do projeto, aja com visão de futuro, não se deixando intimidar por pressões circunstanciais.
E que o Sindicato, se deseja realmente proteger seus representados, compreenda que a maturidade política passa também pela capacidade de dizer “não” quando o interesse coletivo assim exige.
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