SÃO JOSÉ DO RIO PARDO E REGIÃO – ANO 36



Cursos para Pai de Santo Isso é correto?

13/05/2021 - por Babalorixá Paulo Oxossi

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As religiões de matriz africana, propriamente o Candomblé, chegou ao Brasil por volta dos séculos XVI a XIX, com o tráfico de escravos negros da África Ocidental. Religião afro-brasileira (importante frisar que somos AFRO-Descendentes, brasileiros e não africanos) que cultua os Orixás. Deuses das nações africanas de língua iorubá dotados de sentimentos humanos.
Os primeiros relatos da religião de Umbanda datam de 1908, religião que abrange aspectos do candomblé, do espiritismo, é extremamente ligada ao catolicismo através do sincretismo.
Religiões de matriz africana, ao contrário de todas as outras, não possui uma Bíblia, ou um livro de regras estipulado para a reprodução de sua liturgia através dos anos.
A liturgia, os ensinamentos, são passados de Pai para Filho através da oralidade.
Através da oralidade são transmitidos e atualizados todo o saber entre gerações de fiéis. A palavra, o som, a memória adquirem uma concepção de destaque na religião que dissemina a base de seu conhecimento através da fala, da sabedoria repassada oralmente, concretizando-a através da experiência. Os ritos, os mitos, as oralidades, assim como o próprio culto ao Orixá, advindos da África, permanecem no Brasil, resistindo e mantendo sua tradição em busca eterna pelas origens.
O caminho para se tornar um sacerdote, seja ele de Candomblé ou Umbanda, é árduo; além de toda a mediunidade, ou seja, além de todo o dom trazido com seu nascimento, o médium precisa passar etapas de vivência e aprendizado com o sagrado.
O dom, a espiritualidade, a influência dos guias e mentores são primordiais para um indivíduo chegar ao sacerdócio!
Um sacerdote de matriz africana tem a imensa responsabilidade de orientar, zelar, cuidar de uma pessoa por vários anos, afinal você está lidando com a vida de um ser humano, e é muitíssimo complicada, complexa e difícil essa atribuição.
Por este motivo ninguém vira sacerdote porque acordou um dia com a vontade de ser sacerdote; é necessário primeiro ter o dom, e depois iniciar-se nos ritos, devagar para que vá aprendendo, crescendo e evoluindo!
As entidades dizem que “CANDOMBLÉ E UMBANDA SÓ SE APRENDE FAZENDO*; mais além nossos maravilhosos antepassados, nossos mais velhos dizerem que só será bom PAI, aquele que for bom FILHO um dia, e o dever se aprende ajoelhado diante do sagrado.
Fato que, em tempos atuais, tempos da modernidade, da internet, da globalização, da informação, nossa tradição vem sendo terrivelmente atacada, e em nome do dinheiro e de status, estão transformando a religiosidade afro-descendente num grande comércio.
A mais nova é o CURSO PARA PAI DE SANTO, promovido por algumas entidades, na busca dolorosa do dinheiro e da fama a qqualquer custo.
Se não bastasse o enriquecimento de alguns, essa “tal” formação sacerdotal afeta diretamente o futuro de nosso culto.
Estão sendo formados sacerdotes sem absoluta vivência, sem absoluto conhecimento de nossa ancestralidade, muitas vezes até sem absoluto “dom” do sacerdócio.
Gente que após colocar o tal “diploma” debaixo do braço se acha apta a lidar com vidas, a lidar com a fé das pessoas, se acham apta a usar o nome de entidades sérias, o nome de nossos orixás de maneira irresponsável.
Venho através desta coluna chamar a atenção de nossos fiéis e seguidores para que tomem cuidado com gente formada através de cursos essencialmente criados para “alguns” ganharem dinheiro.
Se for procurar um sacerdote de matriz africana, procurem alguém com sabedoria, com dom, com raiz de família. Tomem cuidado com trabalhos feitos pela internet (não façam de jeito nenhum).
Se tiver dificuldades, procure uma associação, uma federação, seria como a Abratu, para indicar-lhe alguém.
Fica aqui o meu alerta a todos de matriz africana, ou simpatizantes: religião, sacerdócio é muitíssimo sério!!

 

PAULO ROBERTO DA SILVA
BABALORIXÁ E PRESIDENTE DA ABRATU
(11) 99691-2152
paulors35@hotmail.com
 

Texto publicado originalmente na versão impressa de DEMOCRATA número 1664, de 24/4/2021, p. 10



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