São José do Rio Pardo se destaca no interior com alta proporção de médicos
03/05/2025
Relatório da USP revela desigualdade na distribuição de profissionais da saúde em São Paulo e evidencia disparidades entre cidades vizinhas do interior
Apesar do crescimento no número de médicos no Brasil, a distribuição desses profissionais permanece extremamente desigual — e os dados mais recentes revelam contrastes marcantes entre cidades próximas do interior paulista. Segundo o relatório Demografia Médica no Brasil 2025, produzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o país alcançou uma média histórica de 3,08 médicos por mil habitantes. No estado de São Paulo, esse índice é ainda mais alto: 3,76 por mil habitantes, a maior densidade médica do Brasil.
Entretanto, a média estadual esconde disparidades regionais. São José do Rio Pardo, com 176 médicos para uma população de 52.205 habitantes, alcança uma média de 3,37 médicos por mil habitantes — índice que, embora abaixo da média paulista, supera a nacional e destaca a cidade como uma das mais bem assistidas do interior. Esse desempenho coloca São José do Rio Pardo à frente de muitos municípios de mesmo porte, que, segundo a própria pesquisa, registram média de apenas 1,06 médico por mil habitantes em cidades entre 20 mil e 50 mil moradores.
“Esses números mostram que São José tem conseguido manter uma rede de atenção com razoável presença médica, o que é essencial para garantir o mínimo de acesso local à saúde básica e especializada”, comenta um dos pesquisadores do relatório.
Por outro lado, Mococa — cidade vizinha com população de 67.681 habitantes — tem apenas 149 médicos registrados, o que corresponde a 2,20 médicos por mil habitantes, bem abaixo da média estadual e nacional. O dado preocupa gestores e indica fragilidade no sistema local de saúde, tanto na atenção primária quanto na especializada.
Concentração nos grandes centros continua
O estudo mostra que, apesar de São Paulo concentrar o maior número absoluto de médicos do país (172.721), a distribuição entre capital e interior é altamente desproporcional. A média de médicos nos municípios fora das capitais é de apenas 2,04 por mil habitantes, frente aos 5,75 nas capitais — e 6,85 na macrorregião da capital paulista (RRAS6).
Essa centralização compromete o acesso de populações interioranas a cuidados especializados, obrigando deslocamentos frequentes para centros como Ribeirão Preto ou Campinas, além de sobrecarregar os profissionais em atividade nas cidades menores.
Formação existe, mas médicos permanecem nas capitais
São Paulo é também o epicentro da formação médica no Brasil, com 80 cursos de graduação em medicina e 1.340 programas de residência médica. Ainda assim, os formandos tendem a permanecer nas grandes cidades, atraídos por melhores oportunidades e estrutura hospitalar. Segundo o levantamento, 63,7% dos médicos especialistas são oriundos da residência médica — e boa parte permanece onde se formou.
A importância de políticas de fixação no interior
O desafio, segundo os especialistas, está em criar incentivos efetivos para atrair e fixar médicos no interior. Melhorias na infraestrutura hospitalar, valorização da atenção primária e estímulos à carreira médica em cidades menores são apontados como caminhos urgentes para reduzir as desigualdades.
O relatório alerta que, mesmo com a projeção de 635 mil médicos no Brasil até o fim de 2025, esse número pouco significará se continuar mal distribuído.
“Sem políticas regionais articuladas, o crescimento da oferta não garantirá acesso equitativo à saúde. É preciso olhar para cidades como Mococa com atenção redobrada e valorizar os bons exemplos, como São José do Rio Pardo, que se destaca mesmo diante das adversidades”, conclui o estudo.
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