A arte de desqualificar o outro
19/11/2020
A amarga arte de desqualificar o outro como forma de auto afirmação na política tem atingindo níveis de requinte que beiram a crueldade.A falta de condições de discutir no campo das ideias, ou de defender-se do indefensável, leva políticos a passar a desqualificar o outro. Diminuir quem argumenta.
Primeiro essa posição, abominável e abjeta, mostra um sentimento de superioridade absolutamente incompatível com a moral política, de servir. Quem se dispõe a desqualificar o outro, deixando os trilhos de uma saudável argumentação retórica, sempre se vê como superior.
Dono da cidade, dono das pessoas.
Dono da verdade.
Dono.
Mas ninguém mais pode ser o dono de outro ser humano. Não pode ser-lhe senhor, coronel ou amo. Não no Brasil em 2020, em uma sociedade democrática, pluralista e republicana.
E ninguém mais pode ser uma “posse” de outro. O direito das pessoas de escolher, de votar, de opinar não pode estar subordinado a prévia aprovação de um “senhor”.
Então, quando vemos políticos tradicionais apelando para desqualificar, com mentiras, outras pessoas, buscando reduzir quem argumenta a menos do que gente, é momento de reflexão.
Segundo, porque se há a conduta, é porque há quem assim pense. E esse pensar insulta toda a sociedade livre.
Terceiro porque tais acreditam na impunidade. Em casos chegam a invocar, publicamente, amizade com autoridades, certos da impunidade de sua conduta em reduzir o “outro” a menos do que humano. E, às vezes, não duvidamos de que um ou outro transitório ocupante de uma cadeira em estrutura de poder possa confundir o poder do Estado que ele representa com o poder pessoal, de perseguir desafetos pessoais usando da estrutura pública. Acontece.
A verdade é que quem se dispõe a diminuir um semelhante, a acusar ou desfazer a imagem e a dignidade de gente inocente por motivos torpes, por ambição ou por necessidade de esconder as próprias mazelas mostra que sob o manto da poder que quer se exercer há um ser humano covarde, medroso e incapaz de se sustentar no campo das ideias. Sabedor da própria pequenez, que quer mitigar diminuindo o outro.
Quem se dispõe a ser líder de homens deve fazê-lo sabendo que lida com iguais. O povo não é massa de manobra ou um gado humano que se possa fechar em um curral, ideológico ou eleitoral. Especialmente em dias de internet e redes sociais.
Não mais.
Onde esses perdem eleições, a democracia ganha. O inverso é extremamente verdadeiro.
A história, impiedosa, sempre mostrará o que cada um foi. Há de separar líderes de chefes; idealistas de aproveitadores; usurários da política, sempre a cobrar juros de obrigações nem sempre bem cumpridas, travestidas de favor pretérito, de estadistas.
Não se enganem. Quem trata mal o porteiro, não pode ser uma boa pessoa.
Quem trata mal o semelhante, quem não respeita o “outro” ou o pensamento diferente, jamais será um bom líder.
O que é uma chance de servir para uns, não passa de sinecura para outros.
Nas eleições cada eleitor deve bem julgar e bem escolher.
Mas separar esse joio do trigo é trabalho da história.
E o relógio da história segue, correndo sobre todos, sem exceção.
Tic-Tac. Tic-tac. Tic-Tac.
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